Prazeres Inúteis
Nos dois últimos séculos, mais coisa menos coisa, o nosso mundo ocidental acreditou na ilusão de que o divertimento é um negócio caro. Trabalhamos arduamente em coisas que não gostamos de fazer de forma a ganhar dinheiro para gastar em coisas que gostamos de fazer.
Pois bem, o prazer inútil ajuda-o a escapar a toda essa confusão dispendiosa e ao desapontamento. O prazer inútil ajuda-nos a evitar elegantemente todo o clamor, agitação e pressão do mundo do trabalha-sem-parar e compra-sem-parar, e a aceder a um mundo de alegria e liberdade. E desfrutar do prazer só pelo prazer pode ser um acto de rebeldia, o que costuma dar um gosto especial.
“Os prazeres ilícitos são proibidos até se tornarem rentáveis”
“Quero lutar por mais prazer, e não por menos sofrimento”
Raoul Vaneigeim
O prazer inútil tem a ver com a autogestão, liberdade, independência.
Quando no verão dormimos uma sesta despreocupada debaixo das árvores de um jardim, estamos a reclamar o nosso direito a viver como escolhemos.
Quando damos um passeio deliberadamente vagaroso pela cidade, e meramente observamos a vida à nossa volta sem nos submetermos à pulsão de comprar, estamos a fazer um protesto agradável contra a sociedade do trabalho e do consumo.
O prazer também pode voltar a ligar-nos à natureza.
Os ociosos adoram a natureza. Não custa nada e é terapêutica.
Algo tão simples como atirar um seixo ao mar numa praia rochosa traz-nos de volta à terra. Ninguém teve de comprar o seixo, ou alugar a água, ou assistir a uma aula de lançamento de seixos. Há seixos de sobra para toda a gente.
A natureza põe as suas coisas à disposição de forma gratuita, ao passo que os prazeres concebidos pelo homem são muito caros.
Precisamos de olhar para as práticas de outros tempos. Quem olha para a história em busca de ideias para a vida actual é com demasiada frequência considerado um romântico ou um nostálgico. Mas fazer o oposto, ou seja, acreditar no futuro, não será um pouco irracional?
A ideia de nos divertirmos pelos nossos próprios meios, usando a nossa criatividade e imaginação em vez de pagarmos a alguém para fazer isso por nós, parece uma abordagem sensata.
Num mundo de labuta, stress e preocupação incessantes, o prazer ocioso pode ajudar-nos a viver de novo, a ter prazer, a desfrutarmos do nosso amor inato pela natureza, a sensualidade e o convívio, sem grande esforço para nós próprios ou para as nossas contas bancárias.
Deitemos fora as grilhetas da vida moderna e entreguemo-nos ao prazer genuíno;
Não corra, ande devagar.
Olhe para cima, sorria e saboreie a sensação da água vinda do céu a refrescar-lhe a cara desgastada pelas preocupações. Quanto mais molhado ficar, mais livre se irá sentir.
Mal se encontre em casa, a pingar o tapete, o riso irá dominá-lo.
Dispa o seu fato completamente encharcado e corra para a casa de banho (tanto melhor se não estiver sozinho).
Está completamente encharcado e grandes pingos de àgua escorrem-lhe pelo nariz.
Seque-se, envolva-se num roupão e devore uns biscoitos acompanhados de uma boa chávena de chá a ferver, deliciando-se no seu sofá!
By Joana Duarte
sexta-feira, 30 de abril de 2010
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